sábado

Baudelaire

Estudando as vanguardas européias do princípio do século XIX, li um poema traduzido de Baudelaire. Eu tinha comigo o texto original e não gostei de algumas palavras usadas, de modo que escrevo o que eu li no texto em francês. Parece hábito, pelo que vi, passeando pelo Google, traduzir o termo "expansion" por êxtase, mas considerando a tradição filosófica que desde a Idade Média fala da expansão do infinito, Agostinho, Nicolau de Cusa, etc, me parece que mudar expansão por êxtase retira uma referência que poderia ser filosófica no poema. Além disso, traduzi esprit por mente porque Baudelaire fala aqui de sentido, de símbolos, e traduzir para o português alma ou espírito abre margem para muita ambiguidade, por isso optei pelo termo não tão religiosamente marcado. E mais uma coisa, não me preocupei em deixar a métrica do soneto, focando-me mais no sentido que na forma. Assim, a tradução completamente livre, a minha primeira tradução de um poema em francês fica assim:

Correspondências

A natureza é um templo onde os vivos pilares
Deixam às vezes sair confusas palavras;
O homem por ela passa através de florestas de símbolos
Que o observam com olhares familiares.

Como longos ecos que de longe se confundem
Em uma tenebrosa e profunda unidade,
Vasta como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se correspondem.

Há perfumes frescos como carne de crianças,
Doces como os oboés, verdes como os campos,
- E outros, corrompidos, ricos e triunfantes,

Tendo a expansão das coisas infinitas,
Como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,
Que cantam os transportes da mente e dos sentidos.

o original:

Correspondances

La Nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles;
L'homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l'observent avec des regards familiers.

Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

II est des parfums frais comme des chairs d'enfants,
Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
— Et d'autres, corrompus, riches et triomphants,

Ayant l'expansion des choses infinies,
Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens,
Qui chantent les transports de l'esprit et des sens.

Charles Baudelaire

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